Duncan Lloyd - Enólogo da Coriole
No início
deste ano, fiz uma pesquisa sobre o mercado de vinhos australianos para o
projeto final do WSET Diploma, onde entrevistei vários produtores de vinhos e
perguntei-lhes quais problemas eles estão enfrentando agora e que problemas os
preocupam para o futuro. Todos
mencionaram a mesma coisa: mudanças climáticas. Essa é a razão pela qual
escolhi este tema, para explicar um dos maiores problemas que a indústria do
vinho está enfrentando.
"A mudança climática é um problema a
longo prazo – e talvez a curto prazo, algumas vezes temos períodos muito secos e
grandes ondas de calor, e você sabe, isso pode causar problemas realmente a
curto prazo."
- Chester Osborn - Enólogo Chefe e
Viticulturista da D'Arenberg Wines
Como as mudanças climáticas podem impactar a
indústria do vinho?
O aquecimento global já está afetando a
indústria do vinho hoje, as mudanças nos padrões climáticos, podem gerar
problemas ao longo do crescimento das uvas, além do tempo de amadurecimento
estarem mudando, afetando as datas de colheita - uma tendência que pode ser um
grande problema no futuro. Ondas de calor e um clima muito seco têm impactado
fortemente a indústria de vinhos e as chuvas extremas também, na qual, vem causando
inundações, erosões e doenças fúngicas nos vinhedos.
Em 2019 e 2020 os produtores australianos tiveram rendimentos muito baixos, ainda me lembro, que a vinícola para a qual eu trabalhei na safra 2019, perdeu 50% da sua produção - tivemos uma safra muito curta naquele ano. O maior problema que enfrentamos, além do rendimento, foi a capacidade da vinícola. Até trabalhar em uma safra, nunca parei para pensar, nos muitos problemas que as mudanças climáticas, podem causar para a indústria do vinho. Tivemos ondas de calor muito fortes durante o amadurecimento das uvas naquele ano, o que temporariamente parou a fotossíntese e, consequentemente, a maturação das uvas.
Então, quando a temperatura caiu, as uvas
começaram a amadurecer novamente, mas o problema foi que todas elas começaram a
amadurecer juntas, atingindo os níveis necessários de açúcares e maturação ao
mesmo tempo. A capacidade da vinícola foi um grande problema, porque todas as
uvas chegaram na vinícola ao mesmo tempo, e não tínhamos tanques suficientes
para fermentá-las simultaneamente.
No entanto, este não foi o pior cenário que já
vi na indústria do vinho. Em 2020, pouco antes do COVID, grande parte da
indústria vinícola australiana sofreu com incêndios florestais. Muitos
produtores perderam alguns, ou todos, de seus vinhedos e alguns não conseguiram
fazer vinho ou tiveram rendimentos drasticamente reduzidos naquele ano, e
dependendo da gravidade dos incêndios, irá impactar nos anos subsequentes.
Aqueles que perderam tudo tiveram que replantar, perdendo ainda mais tempo e
dinheiro. Alguns perderam garrafas de vinhos e até mesmo a própria vinícola.
Leia mais sobre os incêndios aqui: Vidas, Vinhas e Sonhos - Hennekam
Wines
O que os produtores de vinho australianos estão
fazendo?
Os produtores de vinhos vêm mudando a forma de gerenciar
seus vinhedos, alguns exemplos são: usando “mulches” (uma cobertura protetora,
a partir de lascas de casca, palha e etc, colocada no solo ao redor das videiras)
para conservar água e reduzir a necessidade de irrigação; estão plantando uvas que
são mais tolerantes ao clima seco e ao calor, como por exemplo Sagrantino, Mataro, Grenache e etc.
Como os produtores de vinho podem economizar
dinheiro e reduzir o impacto das mudanças climáticas a longo prazo?
Acredito que a "viticultura de
precisão" desempenhará um papel fundamental no futuro das vinícolas
australianas. Quanto mais eu aprendo sobre viticultura de precisão, mais
acredito que este será o próximo grande passo para a indústria do vinho. A
primeira vez que me deparei com o termo "viticultura de precisão" foi
no início do ano passado durante o primeiro módulo do WSET 4. Desde então,
venho pesquisando muito sobre o assunto, pois o novo projeto que estou trabalhando
no Brasil, está usando essas técnicas. No entanto, nunca pensei em compartilhar
isso no meu blog até recentemente, depois da minha palestra para o
CSIRO (A Organização de Pesquisa Científica e Industrial da Commonwealth), onde notei que esse assunto
interessava a muita gente.
O objetivo é criar dados usando GPS, sensores, satélite, etc e, em seguida, usar esses dados para melhorar a viticultura, criando uma agricultura sustentável; aumentando a produtividade e economizando dinheiro a longo prazo. Esta tecnologia permite um uso mais eficiente de água, fertilizantes, mão-de-obra, máquinas e etc, pois os produtores podem obter informações precisas sobre cada fileira do seu vinhedo ou até mesmo por planta, ajudando os gestores de vinhedos no controle de rendimento, maturação das uvas e monitoramento de pragas e doenças.
"Para um ano desafiador, com falta de
chuvas de inverno e condições de cultivo quente e seco, foi um bom ano para ter
os sensores SAP-FLOW. Tive resultados positivos nos 4-6 locais de rendimentos e
economia de água em todos os 6 locais que usamos os sensores."
- Travis Coombe - Gerente de Viticultura da Two
Hands Wines.
O mundo está lutando contra a escassez de água, e economizar água é ótimo para o meio ambiente, mas também significa economizar dinheiro.
"Se você puder reduzir o consumo de água em 1000 galões por mês, você pode economizar em média cerca de US $ 140 por ano em sua conta de água." - Dicas de conservação da água para economizar dinheiro (http://www.isustainableearth.com/water-conservation/money-saving-water-conservation-tips)